As demoradas e
tantas palavras ficam caladas, fadadas a passear poeticamente por cada letra
que te escrevo. E mesmo sabendo que palavras são levadas como poeira a qualquer
brisa de outono, não vejo outra maneira de expressar pensamentos acalorados por
paixão se não escrevendo, porque se foi-me dado o dom de escrever, deve ser
para alguém. E que esta seja à meiga menina cujos olhos estão atentos pelos
meus; são os primeiros a me olhar com consolo quando preciso; são os únicos a
que raiam como uma criança que se esqueceu do mundo envelhecido, quando pede
desculpas e quando as recebe. Que minhas palavras sejam guiadas até a carne dos
seus lábios com o sabor de melhor-do-mundo, que sorriem, gargalham, aquietam e
salvam num beijo de todas as coisas e formas. Devo deixar cada letrinha cadente
se espalhar em teu pescoço para pega-las todas e sentir o perfume das faces do
dia: ora noite, ora manhã. Quando as palavras estiverem comigo ainda restam resquícios
para serem sussurrados no canto do seu ouvido e, aproveitando, mordisco sua
orelha, suspiro seu abraço e preciso de mais palavras...Cada uma delas - como
já bem disse - vêm nas marcas de meu corpo, então eu te abraço em carência e
acendemos uma tocha para explorarmos a aventura: e ela prossegue. Os olhos se
fecham e nossas bocas se encontram como na aurora e no crepúsculo. E já me
esqueço e qualquer termo, sentido, significado que me venha à mente se não te
beijar, e juntos, mergulharmos num mar de fogo. E cada gota deste mar, queimar
para a sedução dos deuses e conquisto novas palavras que ficam caladas,
fadadas...
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